Obesidade é uma doença
Os estigmas relacionados à obesidade.
Denis Pajecki
Cirurgião do Aparelho Digestivo e Cirurgião Bariátrico da Unidade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP / Diretor do Centro de Controle da Obesidade
Obesidade é definida pela Organização Mundial de Saúde como uma doença que, por si só, é causadora de sintomas, que prejudica a qualidade de vida e que aumenta o risco de desenvolvimento de outras doenças, chamadas de comorbidades. Essas podem ser doenças relacionadas ao metabolismo (diabetes tipo II), à circulação sanguínea (hipertensão arterial), ao aparelho digestivo (refluxo gastroesofágico), ao fígado (esteatose ou gordura no fígado) e a vários outros órgãos e sistemas, totalizando mais de 50. A obesidade decorre do acúmulo de tecido gorduroso localizado ou generalizado. Seu diagnóstico pode ser feito por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), uma relação entre o peso e a altura do indivíduo (peso em quilos /altura em metros2). Por esse cálculo, aqueles com IMC ≥ 30 Kg/m2 são considerados obesos. De igual importância é a avaliação dos locais de maior acúmulo de gordura (abdômen ou quadril), que podem ser determinadas por medidas simples da circunferência da cintura ou da circunferência do quadril. Além disso, a avaliação da composição corporal realizada por exame de bioimpedância, permite distinguir de maneira mais precisa a quantidade de excesso de gordura em relação à chamada massa livre de gordura (água corporal, ossos e músculos).
A incidência de obesidade na população cresce a cada ano. Segundo os dados da última pesquisa do IBGE, 19,8% da população brasileira adulta é obesa. Esse índice é maior em populações de mais baixa renda e de menor escolaridade, refletindo um menor acesso a alimentação mais saudável, estilo de vida mais sedentário e menor frequência de atividades físicas programadas (esportes, treinos, etc.). Entretanto, é um erro achar que a principal causa da obesidade são os fatores ditos comportamentais (dieta, estilo de vida). Ou que a pessoa é obesa porque quer e que consegue emagrecer se quiser ou se esforçar. Como já foi dito, obesidade é uma doença de causa multifatorial. Estão envolvidos fatores genéticos, endócrino-metabólicos e ambientais. Nos últimos anos muito se avançou no conhecimento das relações desses fatores com o ganho de peso. Até mesmo as bactérias que vivem no nosso intestino (a microbiota intestinal) estão envolvidas. Mas a inter-relação entre esses fatores é complexa e ainda não completamente desvendada. Não menos importantes são os fatores emocionais (ansiedade, depressão, compulsão alimentar), que influenciam o hábito alimentar e que, em determinados momentos, podem servir de “gatilho” para o ganho de peso, principalmente naqueles indivíduos com maior predisposição.
Sendo assim, não existe um tipo único de obesidade, nem tampouco uma fórmula única de tratamento para todos os pacientes. A avaliação individual e a compreensão de que diferentes estratégias de tratamento podem ser úteis para pacientes diferentes, é certamente o melhor caminho para o sucesso no tratamento. A noção de que o problema está na falta de vontade do paciente é um grande estigma que precisa ser eliminado. Profissionais de saúde precisam conhecer e entender melhor a doença para poder orientar melhor seus pacientes. A população em geral deve aprender que obesidade é doença, que deve ser prevenida e para qual existe tratamento. E os pacientes, que mais sofrem, devem compreender que tem um problema de saúde e não que eles sejam o problema.
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